O ano de 2020 tem sido um período de quebra de expectativas (e esperança) em todo o cenário cervejeiro mundial.
Começar o ano com o aumento constante da cotação do dólar já parecia muito desafiador para as cervejarias que utilizam insumos importados.
Mas um cenário muito mais impactante já estava surgindo: a ameaça pandêmica do novo Covid-19.
Tal cenário exigiu medidas de isolamento, para achatar a curva de contágio. O isolamento está gerando grave impacto sobre o ramo cervejeiro pelas restrições de funcionamento fabril, alcance do consumidor e mudança abrupta de rotina para a população.
Em questões particulares, Brewpubs e microcervejarias, que costumam prezar pelo consumo local e regional, deveriam fechar suas portas ao consumo no ambiente, pela segurança sanitária em meio à pandemia.
Cervejarias de médio e grande porte sofrem com dependência dos PDVs (pontos de venda), com a limitação de aglomerações.
E agora? Como reagir diante de um cenário tão crítico?
Reduzir ao máximo os custos e sobreviver com o fluxo de caixa, até a pandemia acabar, parece ser a reação mais óbvia. Mas considerando que a pandemia pode se prolongar indeterminadamente, essa escolha parece tão arriscada, ou mais, do que inovar.
Muitas empresas vêm buscando inovações estruturais e de posicionamento para enfrentar o chamado “novo normal”, termo esse que traz muitas controversas.
Adaptar-se ao momento de instabilidade, rever conceitos, reestruturar-se, minimizar danos, essa é uma postura que está quase sendo imposta às empresas para sobrevivência durante a crise.
Das opções de mudança adotadas pelas cervejarias, intensificar a cadeia logística vem sendo muito adotada, além do escoamento para os PDVs, o delivery é uma forma de seguir com as vendas, evitando aglomerações.
No fim de março, o Guia da Cerveja fez uma lista com 85 cervejarias realizando delivery, para quem se interessar.
Também, na falta de restaurantes e bares que façam essa ponte, lidar diretamente com o consumidor final é uma alternativa às cervejarias.
Seja um take away, restringindo a entrada de pessoas ou realizando o Drive Thru Cervejeiro, em ambos os casos, há restrição de aglomerações já que não há consumo dentro do estabelecimento.
Outro ponto que está sendo intensificado é o da transformação digital, ampliando sites e redes sociais, inclusive como forma de realizar a venda; além da possibilidade de utilizar aplicativos de delivery.
Não só as cervejarias, mas toda a cadeia de fornecimento está se reorganizando, a fim de se adaptar ao cenário, com projeção até 2021.
Engajamento por uma causa
Estar engajado, representar uma causa, demonstrar empatia com a comunidade, ações humanitárias que demonstrem quem está por trás de uma cervejaria.
São pessoas, que também sofrem com a crise e que tanto precisam de ajuda, quanto estão dispostas a
ajudar.
Podem-se ver diversas iniciativas de cunho sociais protagonizados pelo ramo cervejeiro, que continuam a acontecer.
Arrecadação de alimentos para entidades de apoio, que não só movimentaram cervejarias e empresas locais apoiadoras, mas também a comunidade local a auxiliar.
Produção de álcool em gel por cervejarias, também para entidades e pessoas de rua.
O próprio não desligamento de funcionários e aproximação da empresa com familiares diante da crise transparece a empatia da empresa.
Com o mundo de cabeças para o ar, uma empresa que deixa de lado a mecanicidade de uma simples venda de um produto e demonstra se importar não só com seus clientes, mas com a comunidade local que está gravemente afetada com a pandemia, certamente será lembrada.
Texto de Vinícius Bertone
Quem é Vinícius Bertone?
“Engenheiro Agrônomo, formado na ESALQ – USP. Minha primeira relação com o ramo cervejeiro foi visitando cervejarias artesanais em 2015, onde descobri um novo mundo de possibilidades. Desde então mergulhei cada vez mais, com simpósios, cursos e aprofundei meus conhecimentos com o “Curso Avançado de Fabricação de Cerveja –
Sinnatrah Cervejaria Escola”. Sou investidor da cervejaria Leuven e trabalhei na empresa como freelancer. Acompanhei outras produções e fiz a minha primeira sozinho recentemente, uma Weiss. Fui colaborador voluntário do Slow Brew Brasil edição de dezembro de 2019, em São Paulo. E agora, colunista do Site Bia Bier. Sou entusiasta e apaixonado pelo universo cervejeiro!” – completa Vinícius.